A profundidade do seu trabalho sobre o ato de brincar vai muito além de todas as competências cognitivas, motoras, emocionais e sociais que são frequentemente faladas e conhecidas como áreas estimuladas pela brincadeira.
A perceção social da infância tem vindo a mudar ao longo da história e, como tal, o conceito de brincar também. Nesse sentido, percebemos que atualmente as crianças são as principais influenciadas pela indústria de consumo e de marketing, modificando, desse modo, a sua infância e a forma como brincam e interagem. No contexto social atual, o que se propaga é uma conceção consumista associada à infância, o que leva a um investimento desenfreado em brinquedos, espaços, oficinas, brincadeiras em grupo, entre outros, onde o enfoque é o desenvolvimento de competências e não propriamente o simples ato de brincar.
Assim, com tanto investimento no brincar orientado e estruturado, ele deixa de ser livre. Livre para a criança escolher de forma espontânea e criativa o que quer brincar, como quer brincar e com quem quer brincar. Onde a criança decide, constrói e reconstrói, avança e recua na exploração do que está à sua volta como recurso disponível para brincar. Onde não há sempre uma estrutura escolhida e imposta pelo adulto, uma regra sobre como usar, uma diretriz para limitar ou uma orientação sobre o que é certo ou errado de se fazer.
Nesta reflexão poderíamos também ter um olhar sobre a forma como o tempo das crianças está preenchido e como nele falta espaço para brincar, mas ironicamente também o tempo para brincar é olhado pelos adultos com uma grande necessidade de preenchimento e orientação, de proporcionar as melhores experiências ou meios para a brincadeira, o que nem sempre alimenta a essência e as necessidades da criança.
Beatriz Moura
Psicóloga especialista na infância, adolescência e parentalidade
Clínica MIM | www.clinicamim.com
















